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Roda de conversa sobre saúde, Nutrição e emergência climática entra em pauta com CFN e CRN-7 na COP30

Roda de conversa sobre saúde, Nutrição e emergência climática entra em pauta com CFN e CRN-7 na COP30

19/11/2025

Por Kamila Aleixo e Caio Oliveira

Belém (PA) – O Conselho Federal de Nutrição (CFN) e o Conselho Regional de Nutricionistas 7ª Região (CRN-7) participaram, ontem (18), da roda de conversa “Educação alimentar e nutricional e formação em saúde no enfrentamento das mudanças do clima”, realizada no estande do Instituto Evandro Chagas (IEC), na green zone da COP30, espaço dedicado ao diálogo entre sociedade civil, instituições e lideranças globais comprometidas com inovação, justiça climática e investimentos sustentáveis.

A atividade integrou a programação estratégica do CFN no evento e reuniu especialistas para discutir caminhos de formação em saúde capazes de responder, de maneira qualificada e sensível, aos desafios impostos pela crise climática. O CFN foi representado pelo conselheiro Maurício Rafael Novaes, enquanto o CRN-7 marcou presença com sua presidente, Yonah Figueira, reforçando a atuação integrada do Sistema CFN/CRN na agenda climática.

Territórios, saberes tradicionais e o papel da Nutrição

Em sua fala, Maurício Rafael Novaes destacou o vídeo institucional exibido no início da roda de conversa, produzido a partir do depoimento da nutricionista indígena macuxi, Lucinara Martins. Gravado no território do Barata, em Roraima, o material evidenciou a essência do trabalho em Nutrição, uma prática profundamente conectada às tradições alimentares, às relações com a terra e à preservação da sociobiodiversidade.

O conselheiro ressaltou que povos originários e comunidades tradicionais, embora entre os mais afetados pela emergência climática, são também os principais defensores da biodiversidade e dos sistemas alimentares sustentáveis. Defendeu que a formação em Nutrição incorpore esse entendimento, fortalecendo competências que articulem direitos humanos, agroecologia, saberes ancestrais, ciência e o enfrentamento das desigualdades sociais, raciais e territoriais.

Maurício também anunciou que o CFN está finalizando a nota técnica “A Mudança do Clima no Âmbito da Alimentação e Nutrição: Tecendo Diálogos”, que reunirá diretrizes e evidências para apoiar cursos de Nutrição e profissionais na incorporação qualificada da agenda climática. O documento parte do reconhecimento de que a Nutrição tem papel estratégico na resposta à crise climática e de que territórios e saberes tradicionais devem ocupar posição central nas soluções.

“Quando tratamos de formação em saúde diante da emergência climática, estamos falando de preparar profissionais capazes de reconhecer territórios, culturas e modos de vida como dimensões essenciais do cuidado. A Nutrição só cumpre seu papel quando dialoga com saberes ancestrais, valoriza a sociobiodiversidade e contribui para construir sistemas alimentares que protegem as pessoas e o planeta”. Finalizou, Novaes: “Esta é a agenda que o CFN leva para a COP30: uma Nutrição comprometida com sistemas alimentares saudáveis, justos e sustentáveis, com o direito humano à alimentação adequada e com a preservação da vida em todas as suas formas.”

Saúde indígena e proteção cultural

A presidente do CRN-7, Yonah Figueira, destacou, em sua fala, que a presença do nutricionista nas terras indígenas é também um ato humanitário, fundamental para a preservação da cultura alimentar, para a segurança nutricional e para o fortalecimento de práticas produtivas sustentáveis. Ela alertou que a perda do acesso aos alimentos tradicionais leva ao consumo crescente de ultraprocessados, favorecendo o surgimento de doenças antes inexistentes nesses grupos. Por isso, defendeu a inclusão de nutricionistas nas equipes mínimas de saúde, especialmente diante dos impactos das mudanças climáticas sobre caça, pesca, cultivos e rios.

“A partir do momento que o nutricionista está na terra [indígena], ele está ali desenvolvendo não só um trabalho técnico, mas um trabalho humanitário de preservação da cultura desses povos, e isso contribui na questão da segurança alimentar e também no combate ao efeito estufa, porque estão sendo produzidos hortas, roçados, sem a utilização de químicos e com certeza alimentos orgânicos muito mais saudáveis”, afirmou.

Yonah apresentou, ainda, a publicação “Atuação do Nutricionista na Saúde Indígena”, desenvolvida em 2023 após a grave crise humanitária enfrentada pelo povo Yanomami. A obra, elaborada pela Comissão de Formação Profissional do CRN-7, tem o objetivo de oferecer suporte técnico a nutricionistas interessados em atuar junto às populações indígenas, respeitando suas especificidades culturais, ambientais e organizacionais.

O material, que reúne gráficos, tabelas e ilustrações, foi baseado em documentos do Ministério da Saúde, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), artigos científicos e relatos de profissionais da área. A publicação, produzida pelas conselheiras Rahilda Tuma e Thais Granado, com apoio de Talita Guedes (DSEI Guamá-Tocantins), está disponível gratuitamente na Biblioteca Virtual do CRN-7.

Parceria estratégica com o Instituto Evandro Chagas

A participação na roda de conversa marcou também o fortalecimento da articulação entre o CFN, o CRN-7 e o Instituto Evandro Chagas, instituição de referência nacional e internacional em ciência e saúde pública. O IEC atua como parceiro técnico em agendas relacionadas à saúde climática, vigilância ambiental, impactos de eventos extremos e ações intersetoriais.

O objetivo da parceria é promover um diálogo qualificado sobre os impactos das mudanças do clima na alimentação, na saúde e nos sistemas alimentares, articulando perspectivas científicas, sanitárias e institucionais. A colaboração também permitirá ao CFN apresentar recomendações estratégicas para fortalecer políticas públicas, práticas profissionais e ações climáticas baseadas em equidade, justiça ambiental e proteção da vida.

Essa cooperação amplia a presença do Sistema CFN/CRN em atividades científicas, sociais e comunitárias da COP30, reforçando o compromisso institucional com a produção de conhecimento, a defesa dos territórios e a promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada.