Dia Mundial da Saúde

* Nelcy Ferreira da Silva

O dia 7 de abril é o Dia Mundial da Saúde. Neste dia devemos refletir sobre as condições de saúde a que está exposta a população brasileira. De imediato, devemos voltar nossa atenção para as chamadas Doenças e Agravos não Transmissíveis (DAnT), como as doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, e, em especial, a obesidade, que nas três últimas décadas aumentou 255% (Oliveira, 2008). O consumo inadequado de alimentos pode levar a síndrome plurimetabólica que é o desenvolvimento da obesidade, do descontrole do colesterol, de triglicerídeos e da hipertensão.

A melhor forma de combater a obesidade é a prática de hábitos alimentares saudáveis. Nós, nutricionistas, acreditamos que a inserção da educação alimentar nos primeiros anos da infância e da adolescência é fundamental para consolidar os hábitos alimentares saudáveis. No entanto, não é o que vem acontecendo. De acordo com o Departamento de Medicina Integral, Familiar e Comunitária da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), 15,6% dos alunos de 10 a 19 anos, de uma escola pública no Rio, estão acima do peso recomendado para a faixa etária. O número se aproxima dos 17% de crianças e adolescentes acima do peso, nos Estados Unidos.

O hábito alimentar saudável das crianças e adolescentes sofre forte influência nos ambientes familiar e escolar. As informações de uma alimentação adequada e hábitos alimentares saudáveis podem ser transmitidas através da alimentação escolar, cuja extensão para o ensino médio está em debate na Câmara dos Deputados. O Projeto de Lei (PL) 2877/2008, elaborado pelo FNDE/MEC, com a colaboração do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), teve o apoio do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) e de outras entidades participantes do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSAN). Além de prever a ampliação do benefício para os alunos do antigo segundo grau, o PL prioriza a aquisição dos alimentos diretamente da agricultura familiar e orgânica. É importante aprofundar a discussão da alimentação escolar como direito humano à alimentação adequada e de qualidade.

Outra forma de combater a obesidade entre crianças e adolescentes é controlar a publicidade de alimentos considerados não saudáveis. Infelizmente, alimentos com grande concentração calórica e ricos em sódio e gorduras trans estão presentes em 89,7% das propagandas veiculadas pela mídia, de acordo com a gerente de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Maria José Delgado Fagundes. Mas o mais preocupante é que 42% dos comerciais são dirigidos exclusivamente ao público infantil. Lembramos que existem dois Projetos de Leis sobre a regularização da publicidade de alimentos tramitando no Congresso Nacional. Um é o PL 1637/2007 que, se aprovado, proibirá a publicidade de doces, alimentos gordurosos e refrigerantes para crianças no período de 6h às 21h. No entanto, o Projeto aguarda apreciação de quatro comissões da Câmara dos Deputados. Mas o outro Projeto de Lei, que é do Senado, o PLS 25/2003, está pronto para votação em plenário.

Certamente, combater a crescente obesidade entre crianças, adolescentes, jovens e adultos é o desafio do século 21. Que o Dia Mundial da Saúde conscientize todos os setores da sociedade sobre a necessidade de vencermos este desafio. Os nutricionistas manterão seu compromisso com o zelo pela saúde da população, incentivando, em sua prática cotidiana, cada vez mais, os brasileiros a internalizarem um hábito alimentar saudável. Principalmente, agora, que consultas com nutricionistas foram incluídas nos Planos de Saúde e os Núcleos de Apoio a Saúde da Família (Nasf) foram criados. Com a criação dos Nasf, os nutricionistas passaram a ter vínculo com as equipes da Estratégia de Saúde da Família, que ultrapassaram no mês de fevereiro de 2008 a cobertura de 50% da população brasileira, segundo o Ministério da Saúde.

* Nelcy Ferreira da Silva, 55 anos, é presidente do Conselho Federal de Nutricionistas, professora da Universidade Federal Fluminense e especialista em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ.

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